Movimento Antimanicomial

  • Artigo publicado em: 5 maio, 2009
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Continuando com os temas psicológicos retratados em Caminho das Índias, falaremos hoje sobre
o movimento antimanicomial, também conhecido como luta antimanicomial. Esta nomenclatura refere-se, a grosso modo, ao processo de reforma e transformação dos serviços psiquiátricos no Brasil. No próximo dia 18 de maio, é comemorado o dia nacional da luta antimanicomial.

As clínicas e hospitais psiquiátricos sempre foram carregados de vários estigmas, acredito que o pior deles é o de “depósito de loucos”. Para muitos, ser internado em um lugar como este seria o fim da linha. Não vou negar que há locais com metodologias arcaicas espalhados pelo Brasil, mas há também muitos espaços confiáveis com profissionais realmente engajados com a qualidade e com o zelo no tratamento dos pacientes.

Na novela Caminho das Índias o personagem Dr. Castanho (Estênio Garcia) é um renomado psiquiatra que dirige e trabalha em uma clínica psiquiátrica. Além de ser um bom profissional, Castanho é peculiar no trato com seus pacientes. Muitas vezes surpreendendo o telespectador, que por não conhecer o tema, ficam surpresos com seus métodos. A clínica da novela é o que podemos chamar de ideal. Há uma grande área ao ar livre, terapia ocupacional diária e a supervisão atenta de um corpo clínico capacitado. Por vezes a novela mostra entrevistas com pacientes reais comentando sobre o tratamento, sobre sua doença e sobre suas produções artísticas. Segundo a autora Gloria Perez, o personagem Dr. Castanho é uma homenagem à Dra. Nise da Silveira.



A Dra. Nise da Silveira nos deu uma verdadeira aula de como o lúdico e a produção artística podem ser aliados no tratamento das doenças mentais. O espaço terapêutico passa a ser também um espaço lúdico. Durante sua carreira, Dra. Nise trabalhou com a produção de material de vários pacientes, muitos egressos de outras instituições psiquiátricas. Em conjunto com outros profissionais, criou em 1956 a Casa das Palmeiras, um dos espaços pioneiros deste tipo de abordagem no Brasil.

Manteve ainda contato com Carl G. Jung, primeiramente por carta indagando sobre a simbologia das mandalas produzidas pelos seus pacientes. Posteriormente, por meio de uma bolsa de estudos, aprimorou-se no Instituto Carl G. Jung em Zurique na Suíça, e ainda apresentou trabalhos II Congresso Internacional de Psiquiatria (1957) realizado naquele país. No mesmo ano, o Museu de Imagens do Inconsciente faz uma exposição em Zurique, Jung participa e troca experiências e idéias com a Dra. Nise. A partir desses encontros, a Psicologia Analítica foi introduzida na América Latina.

Encontro de Nise da Silveira e Carl G. Jung durante exposição de obras do Museu de Imagens do inconsciente em Zurique, 1957.


As obras de diversos pacientes da Dra. Nise são reconhecidas mundialmente, inclusive muitos ganharam prêmios. Dentre eles: Adelina Gomes, Fernando Diniz, Octávio Ignácio e Emygdio de Barros. Informações sobre o acervo do Museu de Imagens do Inconsciente podem ser encontradas no site.

Em 30 de outubro de 1999, Dra. Nise falece. Seu legado jamais será esquecido. Sua vida e obra influenciaram profundamente todo o sistema de saúde mental no Brasil e porque não dizer no mundo. Foi uma mulher que marcou o seu tempo, infelizmente pouco conhecida no Brasil, é sem dúvida uma das nossas personalidades mais ilustres do séc. XX. Em 2000, o antigo Centro Psiquiátrico Pedro II é municipalizado, e como homenagem passa a chamar-se Instituto Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira.

Leonardo Fd Araujo CRP 08/10907
Psicólogo e Coach
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Bigorrilho – Curitiba