Por que mentimos para o psicólogo?
Não foi a primeira vez, mas essa semana um paciente me fez essa pergunta.
A resposta não é simples e vem coberta de significado. Para cada um, mentir tem um peso e uma consequência. Há aqueles que mentem simplesmente como uma defesa, outros que mentem para “ficar por cima” na história. Precisamos, no entanto, ressaltar que há a mentira pura e simples e ainda a omissão.
Mentir para o psicólogo é algo bastante comum, estamos já acostumados a isso, vez por outra o paciente acaba se traindo na mentira. Quando temos a sorte de ligar um momento ao outro, a sessão fica bastante rica de significados e símbolos.
É preciso comentar sobre a valia dos mecanismos de defesa. Estes são, em primeira instância, uma postura defensiva do ego perante o desconhecido ou o pouco conhecido. Por exemplo: a pessoa ainda não se sente segura de contar ao psicólogo que era promíscuo sexualmente na juventude. Acaba contando outras coisas que nem sempre são a verdade. Essa é uma tentativa do ego de ocultar e obscurecer conteúdos que até hoje ainda não são bem resolvidos pela pessoa. O que nos faz pensar, e hoje? Onde há a promiscuidade para essa pessoa?
Há ainda a mentira ao desmarcar ou remarcar um atendimento. Quando isso acontece, provavelmente, algum ponto nevrálgico foi atingido na sessão anterior. É uma pena quando o paciente foge da psicoterapia neste momento, pois é justamente esse tipo de movimento que acaba enriquecendo o processo terapêutico.
Já tive situações de pacientes que me ligam uns dias antes da sessão para desmarcar, dizem que vão viajar e que me ligarão assim que possível para remarcar. Quanto a isso, não temos muito o que fazer. Quando a pessoa sente-se segura de voltar e é sincera, o processo se reinicia com força total e com a integração de diversos conteúdos. Isso é bastante comum de acontecer. Há um tempo, ao retornar de uma “alta temporária”, uma paciente foi sincera o bastante e colocou que eu havia a magoado muito na sessão anterior ao dizer determinada frase sobre os fracassos em sua carreira. Trabalhamos bastante em cima disso, pois era um “foco irritativo” dela, algo central de sua história. Esse é mais um exemplo em que a mentira foi positiva. Mentiu dizendo que iria viajar por 15 dias, acabou “se dando alta” e voltou 4 meses depois disposta a elucidar o que ficou obscurecido
Em cima de mentir para o psicólogo, há ainda muita fantasia embutida. Como se nós, de alguma maneira, fossemos reprovar atitudes e pensamentos de nossos pacientes. Muito pelo contrário! Costumo sempre dizer: “- Você pode ficar tranquilo em me contar suas coisas, já ouvi de tudo! Não estou aqui para te julgar e sim para te ajudar a pensar e refletir sobre sua vida. Se existe um lugar certo para você se abrir e desabafar, é aqui, sentado em minha frente.”
Tenham uma ótima semana!!
Leonardo Fd Araujo
Psicólogo em Curitiba CRP 08/10907
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